domingo, 21 de novembro de 2010

Nascida no Rio de Janeiro, neta do grandiosíssimo poeta, cantor e compositor Vinicius de Moraes, já razoavelmente conhecida por seu trabalho de atriz, Mariana de Moraes gravou há dez anos seu primeiro CD, A Alegria Continua, com Elton Medeiros e Zé Renato. Mas, a rigor, Se É Pecado Sambar - lançado no Brasil depois de ter sido editado nos Estados Unidos em 2001 e no Japão em 2003 - é seu primeiro trabalho solo. Já na faixa de abertura, Fotografia, o standard de Tom Jobim, dá para sentir que se trata de cantora afinada, mas de timbre quase trivial. Mariana dribla a voz comum com inusitada seleção de sambas. Se a faixa-título, de Manoel Sant'Ana, é samba um pouco conhecido, o mesmo não se pode dizer das pérolas Meu Samba meu Lamento (Maurício Carrilho e Paulo César Pinheiro), Pra Fugir da Saudade (Paulinho da Viola e Elton Medeiros) e Deus no Céu, Ela na Terra (Wilson Batista e Marino Pinto).
Mariana é salva pelo repertório.

Gravado em abril de 2000, com produção econômica e eficaz de Guilherme Vergueiro, o álbum tem clima cool. Dentro dessa linha intimista, Mariana transita até por dois temas jazzísticos, I Fall in Love Too Easily e There Will Be Another You, ambos registrados por Chet Baker. Curiosamente, ela brilha mais quando arrisca uma leitura mais densa para Medo de Amar (música de seu avô) e para Fim de Sonho, parceria de João Donato e João Carlos Pádua. Fica uma boa impressão. Apesar de não ser dona de uma voz incomum, tem um quê de suavidade, de sensualidade e uma boa interpretação. Definitivamente, Mariana não cometeu o pecado da obviedade. E com certeza faz jus àquele velho jargão de que talento não se adquire, não se compra, ele já nasce com você, está no DNA.

Com vocês, Mariana de Moraes interpretando Fotografia do nosso incomparável e inesquecível Tom Jobim.



Um comentário:

  1. Saborosa a sua crítica, Gi.

    Só mesmo uma licoreira de mão cheia poderia tornar tão palatável a doce mas insossa Mariana.

    Vi o show de lançamento de "A alegria continua". Dureza pra ela, tadinha, dividir o palco com o gogó de ouro do Zé e o gogó malandro do Elton, meu maior ídolo no samba.

    Mas ela tem mesmo essa virtude que você destaca: um tremendo bom gosto na escolha do repertório.

    Beijo

    P.S.: Qualquer hora mando algumas músicas de uma certa amiga minha pra você criticar...

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