segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Uma carne exposta para que ele acaricie. É assim que sinto quando, meticulosamente, ele me despe de todas as peles e me toma por todas as raízes e nervos. Vamos construir um palácio, ele diz, vamos mudar pra Veneza, vamos rir pelas ruas, dormir embriagados. Vou te arrancar todas as dermes, todas as noites, vou te despir das máscaras, vou te deixar como és, ele diz. Faremos baderna em igrejas, gritaremos palavrões da janela, levaremos os cachorros da rua pro nosso apartamento. Vou lhe fazer um filho e uma tela expressionista. Ele diz.


Eu ainda não entendi se é loucura ou arrebatamento. Meus pés no chinelo suam, não consigo correr sem cair e ele me alcança, me retoma aos beijos. Ele me mantém no laço ardido do amor e ódio, do bem e do mal. Esse amor é filho da guerra, eu digo, somos inimigos. Ele ri, toma calmamente outro gole, me pega pelo braço e me arrasta até o quarto mais próximo. Ali entendo como sou sempre o país mais fraco. Terrorista, eu grito. Ele me lambe todos os vãos, me morde as sobras, me engole. Nossa febre é vida, meu amor, ele sussurra me arrancando a orelha.


Fadigamos alguns minutos, abraçados. Levantamos e saímos rindo pela rua, chutando pedrinhas e falando obscenidades para que as velhotas de portão nos escutem.




Ser feliz é isso.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Não sei se já falei aqui da minha predileção por piano. Do toque suave e do requinte que este pode conferir a qualquer música. Estes dois intérpretes têm lugar cativo na lista dos "mais mais" da nossa rica MPB. César Camargo , para mim, é um dos melhores pianistas do Brasil e porquê não dizer do mundo. E Juntamente com a voz incomparável de Pedro, que é filho de Elis e irmão da minha musa Maria Rita, não poderia ser diferente. Por isso, meus caros, deixo-vos aqui a mais pura prova de que talento não se conquista, ele já nasce com você. Tá no DNA. Ou tem ou não tem. Fato.

Um SALVE à Pedro Mariano e César Camargo Mariano. Pai e filho, sintonia e delicadeza incontestáveis. Interpretação da música "Tem Dó" dos nossos inesquecíveis Vinícius de Moraes e Baden Powell.



segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O que tinha de ser...



Porque foste na vida
a última esperança
encontrar-te me fez criança
Porque já eras meu
sem eu saber sequer
Porque és o meu homem
e eu a tua mulher

Porque tu me chegaste
sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas com calma
Porque foste em minh'alma
como um amanhecer
Porque foste o que tinha de ser.