Estão os dois, à mesa do restaurante. Olham-se.
Seus olhos não são os olhos ingênuos que contemplam as cenas de felicidade das telas de Larsson. A cena, refletida nos olhos do outro, não é uma cena de felicidade. Seus olhos procuram a felicidade que se perdeu. Mas como se perdeu? O rosto não é o mesmo, aquele mesmo rosto que, jurei para mim mesmo, haveria de amar para sempre? Olham um para o outro (tantas vezes fizeram isso!) – e fica não dita a pergunta que nenhum tem coragem de fazer: “Que é que fez com que a rosa que florescia deixasse de florescer? Que é que fez com que a rosa que só florescia rosas, agora floresça espinhos?”
O jantar termina. E cada um vai para a sua solidão. Lá, longe do outro, é finalmente possível amá-la. Na distância o outro não perturba a sua bela imagem. Ela está no retrato, como sempre esteve, imperturbada, sempre a mesma, congelada eternamente. E cada um sorri.Rubem Alves in “O AMOR QUE ACENDE A LUA
– A Rosa não mais Floresce”
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Olhar
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