sexta-feira, 3 de maio de 2013



Vai que você passe, arrastando seu passado escandaloso, recheado de tropeços e amores, arraigado em sorrisos e desaforos. Que dance a dança dos mistérios, e investigue a história dos soluços, alimente universos paralelos, e ameace o choro se ele acontecer sem consentimento.

Com sentimento...

Vai que você reze por medo, desbrave o mundo com elegância, desça do salto da esperança, só para encarar o derradeiro. Grite por ajuda ou brincadeira, gargalhe diante da fatalidade. Revire gavetas, procure tesouros escondidos em bocas alheias, venda paixões imaginárias a troco de nada e redenção. Que mude tudo de lugar só para garantir tropeço.

Caia aos pés dos recomeços.

Vai que você passe, exalando o perfume das tragédias, trançada em panos da comédia, fazendo-se de vítima da felicidade. Das obras tortas da felicidade. Da indecência da felicidade. Da sagacidade da felicidade. Da falta que faz a felicidade.

Quando ela se perde da gente.

Vai que você cometa crime, mate o dó e o ressuscite lágrima, deságue mares no chão da sala, assista chuva cair nos telhados. Deite-se no chão para alcançar o céu, varra a casa para pagar o aluguel do tempo gasto com nada. Colha segredos dos que lhe dão confiança. Cozinhe a comida para a fome das crianças que não teve, more em varandas, em quintais, em cativeiros.

Em prisões que lhe provocam medo.

Vai que você quebre a banca, as regras, a cara amarrada de quem lhe fere. Fale com o espelho sobre a imagem de quem ama. Negue ao espelho a imagem que lhe cabe. Core diante da palavra afeto, sonhe secretamente com a palavra alento, refestele-se na palavra vento. Engula palavras em verso, cuspindo-as em ritmo de tantra.

Assanhando o consentimento...

Que lhe conceda o direito de habitar meus pensamentos, de abraçar meu coração com as mãos, criar silêncios no meu dentro. Tecer a si na minha memória. Fechar a casa e ir embora.

Deixando-me a ver navios e horas... Que não passam. 







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